Mattoso gratificado: "Vivo citando casos poeticos de pisantes sendo
engraxados com a lingua, mas a propria TV aberta ja exhibe exemplos
litteraes como este, que thematizo nos sonnettos abbaixo, um dos quaes
tambem declamado em video. Nada como a vida real, ou pelo menos em
reality, ainda que fake..."
DA LINGUA VENENOSA (SONNETTO 1321)
A lingua, ao se dobrar, mostra ser grossa,
rachada, callejada na aspereza.
Pudera! Pouco menos indefesa
está sob o solado e sob a troça!
Saliva, que ja chega a formar poça,
excorre das ranhuras. Sem surpresa,
quem lambe acha migalhas que da mesa
cahiram e adheriram, nas quaes roça.
Alem dos farellinhos, na borracha
ja gasta da botina a lingua suja
particulas communs nos pisos acha:
Poeira, cuspe, bosta e, de lambuja,
o sangue de outra lingua, menos macha
que a minha, esta que a todas sobrepuja!
HUMILDE TRABALHADOR (SONNETTO 4681)
Sentado, do engraxate, na cadeira,
um hooligan sorri, mandando: "Engraxa
ahi! Mas com a lingua!" Elle se agacha.
E os outros vendo, em volta, a brincadeira.
O velho abbaixa a cara, beija, cheira
o couro da botina. Cruel acha
aquillo, mas dos jovens, ja, bollacha
levou. Engraxará, queira ou não queira.
A lingua, sob o olhar de todos, passa
saliva na biqueira, na beirada
da sola. E os marmanjões achando graça:
"Capricha ahi, peão!" E dão risada.
Lambida a bota toda foi. Na praça,
ninguem ousa intervir, ninguem faz nada.
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
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Contacto directo com o auctor: mattosog@gmail.com
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