sábado, 30 de julho de 2016

BILLY

Mattoso recapitulando: "Nos annos 1990, quando eu accabava de perder
toda a visão e collaborava com o sello independente Rotten Records na
edição de collectaneas tribaes como URBANOISE, fui filmado para
videocassette lambendo a bota e o pé dum extranho trazido pelo cineasta
de trash movie, que me editou ao som dos Billy Brothers, uma das bandas
gravadas pela Rotten. Agora recuperado digitalmente, o video foi
disponibilizado na rede e eu o revisito com dois sonnettos allusivos."





DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO (SONNETTO 1204)


O couro preto enruga-se e, dos pós
que a bota ja batteu, ainda resta
um pouco accumulado em cada fresta
da sola, gasta e grossa como noz.

Biqueira arredondada e varios nós
aptados no cadarço dão a esta
especie de cothurno um ar de festa
de gala, ornando ilhoz apoz ilhoz.

Não é, porem, um reco quem a calça,
e sim um punk, o symbolo contrario
do orgulho militar. A gala é falsa.

Não marcha: pulla e chuta. De operario
é o pé, chato e calloso, que uma valsa
jamais dansou. Seu cheiro é meu themario.


DA BOTA QUE NÃO DESBOTA (SONNETTO 1416)


Emquanto o dum soldado é de cor preta,
do dum paraquedista, que em nó cego
passou todo o cadarço, e na sargeta
evita se sujar, eu me encarrego...

Marron, este cothurno na punheta
sonhei que lamberia, isso não nego...
Porem nunca suppuz que alguem remetta,
no bojo duma caixa, o tal burzego...

Só quando esse pacote desembrulho
e appalpo o couro gasto, quanto orgulho
calculo que seu dono delle tinha...

Da sola, 'inda o relevo sulcos guarda...
Suppondo que era verde aquella farda,
na bota passo a lingua vermelhinha...


Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
http://correctororthographico.blogspot.com.br

Contacto directo com o auctor: mattosog@gmail.com

///

Nenhum comentário:

Postar um comentário