sábado, 30 de julho de 2016

SOPA

Mattoso recapitulando: "Quem acha que eu exaggero ao thematizar o abuso
de cegos em meus sonnettos, provavelmente ja gargalhou assistindo a
videos de pegadinha como este, que pegam leve e levam na boa. Mas quem
quizer assistir a scenas mais pesadas demonstrando o tractamento
reservado aos cegos pela galera normovisual, basta sollicitar-me uma
admostra por email. Emquanto isso, offeresço uma admostra das pegadinhas
que ja viraram sonnetto em livros como O POETA PECCAMINOSO ou
DESILLUMINISMO. Divirtam-se!"


"Blind Man Eats Bird Poop Soup" (pegadinha)




PRANKS ON BLIND PEOPLE (X) [sonnetto 4098]

"Eu tenho aqui um 'refri', vae lhe tirar
o gosto desse liquido que o chato
jogou na sua cara..." Eis que o gaiato
retira e mostra o pau, que vae ao ar!

Mergulha o pau no coppo e dá a tomar
aquelle guaraná ao ceguinho grato,
que engole, estala os beiços: "Eu me macto,
um dia! Não supporto! É muito azar!"

Quem filma, dá risada emquanto opera
a camera, a distancia. O cego, agora,
acceita do rapaz o que lhe dera...

Tirando a bota, o cara para fora
expõe sujos artelhos, o que gera
mais risos de quem rir dum cego adora!


PRANKS ON BLIND PEOPLE (XI) [sonnetto 4099]

Dos dedos nos vãos passa elle o chiclette,
depois no pau o esfrega, antes de dal-o
ao cego, ja embrulhado, e esse regalo
mascando vae o trouxa e mais promette!

"Me contam que tem gente que commette
qualquer barbaridade (e até ja fallo
em grossa putaria), faz de rallo
humano um pobre cego, pinta o septe..."

E insiste o folgazão: "Será verdade?"
Responde o cego: "Ouvi fallar, mas não
passei por tanta coisa que degrade..."

"E nunca chupou rola?", o folgazão
insiste. "Não! Magina! Ninguem ha de
fazer isso commigo!", acha o chorão.


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PEDICURO

Mattoso recapitulando: "Outro dia foi a data do podologo, mas eu, que
nunca fui anthropologo, me considero um andropodologo honoris causa, ja
que podologuei de graça, sem precisar de cachê para performar nem de
michê para me conformar. Abbaixo vae uma scena urbana com a qual estou
accostumado na cegueira e um sonnetto pertinente. Até!"




SONNETTO PEDICURADO (740)



A planta humana é plana como um mappa
que o corpo appoia e explana, poncto a poncto.
Sem vel-a, deante della me defronto
e o rosto inteiro sinto que me tapa.

De poncta a poncta é chata como chapa.
De lado a lado é larga e, emquanto compto
centimetros, o cheiro me põe tonto
do masculo suor que a meia empappa.

Appalpo a pelle grossa e a massageio.
Lambendo lavo o vão de cada dedo.
O sujo succo sugo e amargo sei-o.

Mais grego o dedo grande, mais eu cedo
à tactil temptação de dar-lhe asseio.
Fellando, engulo a glande no arremedo.


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ENGRAXATE


Mattoso gratificado: "Vivo citando casos poeticos de pisantes sendo
engraxados com a lingua, mas a propria TV aberta ja exhibe exemplos
litteraes como este, que thematizo nos sonnettos abbaixo, um dos quaes
tambem declamado em video. Nada como a vida real, ou pelo menos em
reality, ainda que fake..."





DA LINGUA VENENOSA (SONNETTO 1321)



A lingua, ao se dobrar, mostra ser grossa,
rachada, callejada na aspereza.
Pudera! Pouco menos indefesa
está sob o solado e sob a troça!

Saliva, que ja chega a formar poça,
excorre das ranhuras. Sem surpresa,
quem lambe acha migalhas que da mesa
cahiram e adheriram, nas quaes roça.

Alem dos farellinhos, na borracha
ja gasta da botina a lingua suja
particulas communs nos pisos acha:

Poeira, cuspe, bosta e, de lambuja,
o sangue de outra lingua, menos macha
que a minha, esta que a todas sobrepuja!


HUMILDE TRABALHADOR (SONNETTO 4681)

Sentado, do engraxate, na cadeira,
um hooligan sorri, mandando: "Engraxa
ahi! Mas com a lingua!" Elle se agacha.
E os outros vendo, em volta, a brincadeira.

O velho abbaixa a cara, beija, cheira
o couro da botina. Cruel acha
aquillo, mas dos jovens, ja, bollacha
levou. Engraxará, queira ou não queira.

A lingua, sob o olhar de todos, passa
saliva na biqueira, na beirada
da sola. E os marmanjões achando graça:

"Capricha ahi, peão!" E dão risada.
Lambida a bota toda foi. Na praça,
ninguem ousa intervir, ninguem faz nada.


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FILHO

Mattoso meditando: "Si esse filho chulepento sacaneia assim o proprio
pae, imagino o que faria com um cego! Si meus leitores tambem imaginam,
peço que me enviem suas hypotheses pelo mattosog@gmail.com e retribuirei
com scenas mais explicitas, que não posso appreciar mas supponho serem
curtiveis."





SONNETTO DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO (1204)



O couro preto enruga-se e, dos pós
que a bota ja batteu, ainda resta
um pouco accumulado em cada fresta
da sola, gasta e grossa como noz.

Biqueira arredondada e varios nós
aptados no cadarço dão a esta
especie de cothurno um ar de festa
de gala, ornando ilhoz apoz ilhoz.

Não é, porem, um reco quem a calça,
e sim um punk, o symbolo contrario
do orgulho militar. A gala é falsa.

Não marcha: pulla e chuta. De operario
é o pé, chato e calloso, que uma valsa
jamais dansou. Seu cheiro é meu themario.


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BILLY

Mattoso recapitulando: "Nos annos 1990, quando eu accabava de perder
toda a visão e collaborava com o sello independente Rotten Records na
edição de collectaneas tribaes como URBANOISE, fui filmado para
videocassette lambendo a bota e o pé dum extranho trazido pelo cineasta
de trash movie, que me editou ao som dos Billy Brothers, uma das bandas
gravadas pela Rotten. Agora recuperado digitalmente, o video foi
disponibilizado na rede e eu o revisito com dois sonnettos allusivos."





DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO (SONNETTO 1204)


O couro preto enruga-se e, dos pós
que a bota ja batteu, ainda resta
um pouco accumulado em cada fresta
da sola, gasta e grossa como noz.

Biqueira arredondada e varios nós
aptados no cadarço dão a esta
especie de cothurno um ar de festa
de gala, ornando ilhoz apoz ilhoz.

Não é, porem, um reco quem a calça,
e sim um punk, o symbolo contrario
do orgulho militar. A gala é falsa.

Não marcha: pulla e chuta. De operario
é o pé, chato e calloso, que uma valsa
jamais dansou. Seu cheiro é meu themario.


DA BOTA QUE NÃO DESBOTA (SONNETTO 1416)


Emquanto o dum soldado é de cor preta,
do dum paraquedista, que em nó cego
passou todo o cadarço, e na sargeta
evita se sujar, eu me encarrego...

Marron, este cothurno na punheta
sonhei que lamberia, isso não nego...
Porem nunca suppuz que alguem remetta,
no bojo duma caixa, o tal burzego...

Só quando esse pacote desembrulho
e appalpo o couro gasto, quanto orgulho
calculo que seu dono delle tinha...

Da sola, 'inda o relevo sulcos guarda...
Suppondo que era verde aquella farda,
na bota passo a lingua vermelhinha...


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ASSALTO

Mattoso repercutindo: "Uma internautica amiga me contava sobre um cego
maltractado pela familia e torturado pela molecada perante a ommissão
geral, nesses interiores tupyniquins, o que me fez reflectir que a
ommissão, quando não a intenção de abusar, tudo faz parte do pacote
deshumano da humanidade, como demonstro neste video flagrado pelas
cameras de rua na Philadelphia, quando testemunhas nada fazem para
impedir que o cego seja assaltado e chutado. Si a isso sommarmos a dose
de masochismo proporcional ao natural sadismo social, teremos a formula
thematica para sonnettos como este meu, que integra o livro
DESILLUMINISMO, agora em edição do sello goyano Martello."





O CONJUGADO E O SUBJUGADO [sonnetto 3385]


Ser cego é ter, a menos, um sentido.
Ficar cego é chorar tel-o perdido.

Ser cego é superar algum limite.
Ficar cego é sentir-se rebaixado
ao cão que, outrora solto, a jaula habite.

Ser cego é compensar, tudo appalpando,
ouvindo e farejando, mais agudo.
Ficar cego é chupar, engolir tudo,
ouvir risada e as ordens de commando.

Ser cego é achar que ao cego se permitte
algum prazer. Ficar é, no solado,
lamber o pó, de alguem que, ao ver, se excite.

Ser cego é revidar. Eu não revido.
Fiquei, pois: levo o chute e nunca aggrido.


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ARANHA

Mattoso horrorizado: "Pedi aos leitores que me escrevessem para sacanear
um cego, mas um delles me enviou um video que mostra um vendado aptado a
uma cadeira para, como me foi descripto por quem assistiu, ser exposto a
uma... aranha! Soccorro! Aqui vae o video, seguido de sonnetto allusivo.
Tirem esse bicho dahi!"



ARACHNOPHOBIA (SONNETTO 3874)



Dellas fallo francamente
e pavor ellas me dão.
Mas conhesço muita gente
que não falla dellas, não.

Quer testar? Experimente
commentar sobre o ferrão,
as cheliceras, na frente
de quem tenha essa adversão.

Falle em como é cabelluda
a mygala e como gruda
numa victima, ao piccal-a...

O subjeito fica mudo
de terror, o que diz tudo:
mais exprime quem não falla...


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AMIGO

Mattoso endossando: "Esse cara que performa o Blind Guy pisa no callo e
põe o dedo na ferida. Mas os melhores amigos do cego são aquelles que o
sacaneiam consensualmente. Wilma Azevedo que o diga. Retractei diversas
dessas situações, inclusive as dissensuaes, no livro DESILLUMINISMO,
lançado no dia 10 de Agosto (19 horas) na Livraria da Villa da Fradique.
Não vejo vocês la! Apparesçam!"




SONNETTO "A MISSÃO DO CEGO"



Perguntou Wilma Azevedo,
ao rever-me, si é verdade
que, ja cego, eu sirvo e cedo
aos caprichos dalgum Sade.

Respondi que meu degredo,
na cegueira, ou minha grade,
é servir como brinquedo
delle e ser o que lhe aggrade.

"E esses Sades, Glauco? São
mesmo sadicos? Tesão
sentem vendo um cego em pranto?"

"Você sabe, Wilma: quem
tem visão quer rir de alguem
que feliz não seja tanto..."


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ALEX

Mattoso visualizando: "Do cinephilo que fui emquanto enxergava, a
memoria guarda como scena suprema aquella do Alex lambendo sola em
LARANJA MECHANICA, aqui copiada. Approveito para transcrever um sonnetto
allusivo, incluido no livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem edição
impressa. Saudações orthographicas!"




GEMMAS DO CINEMA (III) [sonnetto 4052]

A scena culminante, em close, é aquella
de Kubrick, em que o joven delinquente
que fora, outrora, algoz de tanta gente,
agora, na prisão, supplica e appella.

Será disciplinado: sae da cella
directo para um palco, onde consente,
na marra, que um subjeito o aggrida e tente
fazel-o reagir. Que occupa a tela?

Cahido, Alex, de cara para cyma,
é visto de perfil, emquanto a sola
lhe cobre a bocca: ha pé que mais opprima?

Com ordem de lamber, Alex exfolla
a lingua, que se dobra e se approxima
dum humido capacho: humilde eschola!


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