sábado, 1 de agosto de 2015

JULHO/2015 (1ª QUINZENA): MONSTROS SAGRADOS E MESTRES DESSACRALIZADOS

Poucos mezes attraz, o appresentador do programma nocturno da radio
Estadão (si não me enganno, o proprio Emmanuel Bomfim, optimo como
sempre em seu personalissimo estylo "queixo cahido") entrevistava um fan
do Michael Jackson, de cujo nome não me lembro, nem do motivo da
entrevista. Mas o cara parescia saber tudo da vida do Michael, pois
resaltou inclusive o vanguardismo dos videoclips produzidos para as
faixas do album THRILLER, impeccaveis exemplos da arte a serviço do
showbiz. A certa altura, o entrevistado confessou que, si o Michael
acconselhasse seus fans a puxar fumo, elle seria o primeiro a admittir o
uso da maconha, fiel seguidor que era. Fiquei ouvindo, interessado e
curioso pelo que viria a seguir, mas, quando o cara tentou explicar por
que o Michael era "superior" a Stevie Wonder, não pude deixar de rir.
Pensei commigo: a unica vantagem do Jackson sobre o Wonder é que um
sabia dansar e outro não pode. No mais, a comparação é descabida.

Michael Jackson não passa dum astro pop, um mytho midiatico. Suas
canções, deschartado o appello choreographico, são automaticas e
monotonas, ao contrario da consistencia e da variedade do repertorio de
Stevie Wonder, este sim, um expoente do soul e de generos affins. Mal
comparando, seria o mesmo que ouvir dum fan do Chubby Checker que seu
idolo é melhor que Fats Domino, ou dum fan de Andy Kim que este supera
Neil Diamond. Pessoalmente, ouço todos, mas não inverto as posições.

Mas fanatismo é isso mesmo. Qualquer argumento vale como pretexto para
defender a "primazia" dum idolo sobre os idolos alheios. Detalhe: curto
Stevie Wonder, mas elle não é meu maior idolo na praia da negritude
sonora. Prefiro Wilson Pickett. Nenhum dos citados, aliaz, seria
exactamente um idolo do rock. O proprio Elvis Presley, analysado
friamente, tem pequena parcella de seu repertorio verdadeiramente ligada
ao rock. Quanto aos Beatles, admitto: sou beatlemaniaco, mas isso nem é
signal de fanatismo e sim mera attitude padrão, commum a todos que
accompanharam attentamente a historia do rock, que começa cincoentista e
termina oitentista. Fanatismo, propriamente dicto, é curtir bandas
"discipulas" até mais que as matrizes, como os Raspberries, a Electric
Light Orchestra, o Badfinger ou o Tomorrow em relação aos Beatles, ou
mesmo as New York Dolls em relação aos Rolling Stones. Desnecessario
lembrar que as torcidas de Stones e Beatles ja rivalizaram como
corinthianos e sampaulinos.

Citar o Tomorrow vem a proposito, pois é a banda que melhor reflectiu os
Beatles na phase psychodelica, ja que Raspberries ou Badfinger os
reflectem nas phases mais palataveis ao consumidor commum da
beatlemania. E, em se tractando de psychodelismo, ha differenças basicas
entre a eschola britannica e a americana, ja que, nesta, as duas bandas
mais influentes foram os Byrds e o Jefferson Airplane, que deixaram
innumeros grupos "discipulos", alguns incluidos nos historicos volumes
da serie NUGGETS, tão bem revisitada pelos Ramones no album ACID EATERS.
Eu sei, Ramones e Byrds pouco teem em commum, a não ser os ponctos de
contacto entre hippies e punks quanto à contestação do "Systema", mas,
como idéa puxa idéa, approveito para dizer que sou fanatico por ambas as
bandas, cada uma em sua epocha.

Toda esta reflexão tem logar a pretexto do dia 13, mundialmente
consagrado ao rock, genero que foi se desmembrando em tantos subgeneros
tribaes que dá para entender o fundamentalismo quasi cego dum defensor
do Stevie Wonder, do Ray Charles ou mesmo do José Feliciano... Conforme
a preferencia do fan, 13 de julho pode ser anniversario dos Rolling
Stones (1962), lançamento do album de estréa do Queen (1973) ou data do
show "Live Aid" (1985).

Paro, portanto, com a digressão e pinço dois ganchos para os poemas aqui
incluidos: a relativa affinidade entre hippies e punks e a sensibilidade
dos sessentistas para resgatar as raizes, no caso o country rock pelos
Byrds, como suggerem os versos "A little bit of courage, is all we lack.
/ So catch me if you can, I'm goin' back." da canção "Goin' back", faixa
do album THE NOTORIOUS BYRD BROTHERS, que por signal nem foi composta
por elles e sim por Carole King com seu parceiro Jerry Goffin. Fallando
em raizes, finalizo sustentando uma these ja admittida nos meios
musicologicos: a historia do rock accabou na decada de 1980, ou seja,
teve começo, meio e fim. O resto é reprise e remake. Vamos aos poemas.
Até a proxima, com outros devaneios viajantes!


SONNETTO DO DENOMINADOR COMMUM [1292]

Um punk e um hippie attritam p'ra ver qual
dos dois mais firme lucta e tem seu thema
mais rude e radical contra o Systema
que, em ambos, despertou odio mortal.

O hippie, pacifista e passional,
allega que em maré contraria rema
quem quer, a ferro e fogo, e com extrema
conducta, combatter tão vil rival.

O punk é mais directo: paz e amor
não vingam; "flower power" não floresce,
pois fazem sempre o jogo do oppressor.

Não chegam a consenso. Não esquece
nenhum dos dois, porem: diverge a cor,
mas contra o mesmo Deus se reza a prece.


SONNETTO DA PAZ E DO RANCOR [1396]

Sahidas, em politica, só duas:
a hippie e a punk. Apenas na primeira
reside o pacifismo, o amor, as nuas
verdades e vontades... Mas Zeus queira!

As coisas, na segunda, são mais cruas
e, assim como o rockão é mais pauleira,
tambem as reacções são, pelas ruas,
mais proprias à pedrada, que é certeira!

Em termos philosophicos, no plano
geral e humanitario, eu mais me irmano
aos hippies, pois em armas não confio...

Mas, quando o pessoal e o passional
mais alto fallam, sou ao punk egual
e adjudo a pôr na polvora o pavio...



MOTTES GLOSADOS


Corajoso é quem recua
e o passado recupera.

Teem tambem os Byrds a sua
posição quanto à vanguarda:
Quem advança se accovarda;
corajoso é quem recua.
Não ha moda que destrua
o que "classico" antes era.
Restaural-o não é mera
"tradição", nem "velharia".
Mais innova quem recria
e o passado recupera.


Dar ao rock um dia é tudo
que esse embalo não precisa.

Eu, que os generos estudo,
quattro decadas, só, dou
para a historia desse show.
Dar ao rock um dia? É tudo
formalismo! Fui sortudo,
pois vivi minha pesquisa
do começo ao fim e, à guisa
de resumo, apenas digo:
Nem escrevo extenso artigo,
que esse embalo não precisa.

Nos cincoenta foi dansante,
sobre amor adolescente.
Nos sessenta, descontente
da politica, durante
sua phase mais pensante,
foi lysergico. Anarchiza
nos septenta e tribaliza
nos oitenta. Agora, é mudo.
Dar ao rock um dia é tudo
que esse embalo não precisa.


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