sexta-feira, 2 de setembro de 2016

SOLAS


Mattoso recuperando: "Do tempo em que eu enxergava são estes trechos do
livro MANUAL DO PODOLATRA AMADOR. Ja na era digital, compenso a cegueira
gravando declamações em video, accompanhadas de imagens escaneadas.
Quero ver (Ops!) si algum leitor tem o pé grego e chato alludido nos
sonnettos..."

{Tudo isso me carreou reputação parallela à de poeta maldicto, que, até
ser temporariamente relegada ao limbo com a chegada da cegueira,
renderia no minimo uma bella pasta de correspondencia, volumoso
inventario de depoimentos, confidencias, propostas e phantasias. Alguns
missivistas se prendiam aos telegraphicos limites do aerogramma, onde só
uma face do papel era approveitavel. Conseguiam approveital-a ao maximo,
traçando com canneta o contorno da sola appoiada sobre a folha e
escrevendo dentro do contorno. Ommitto os nomes dos remettentes, mas as
palavras são litteraes.}

{Glauco, o que mais me excitou na entrevista (Folha-SP) foi o character
libertador, anticonsumista e antiesthetico que possibilitou a minha
acceitação do meu pé superdotado. Cada vez que você mencionava um pé em
verdadeira idolatria eu o imaginava deante dos meus dedões purulentos
com resquicios de bichos-de-pé não de todo extirpados na infancia. Me
contorci de prazer ao imaginar o fim de minhas frieiras ao contacto de
sua lingua asquerosa. Foi tão importante para mim esta acceitação da
minha autoimagem que eu vou abandonar o uso dessa litteratura
submundista que era a unica forma de extravasar meus impulsos
reprimidos.}

{Glauco, achei o maior barato sua entrevista na "Folha da Tarde". Segue
o formato e tamanho do pé, tenho os dedos com alguns pellinhos e uma
frieira no mindim, em tractamento ha 2 annos. Sou vidrado nos pés das
minhas namoradas, ellas ficam com um tesão intenso, que culmina em OMs
(orgasmos multiplos). [...] Não o achei louco maluco, te achei
liberado.}





IMPERFECCIONISTA (SONNETTO 401)
https://www.youtube.com/watch?v=wqoPIKo8RHQ

Agora lhes descrevo o pé que adoro:
Maior que o meu, portanto masculino,
ainda que pertença a algum menino,
suado até, por tudo quanto é poro.

Fedido de chulé: nunca inodoro.
Sapato ou bota: em couro nada fino.
Assim, folgado e sadico, o imagino,
egual aos que da infancia rememoro.

Mais longo o indicador que o pollegar,
na planta é plano, e não do typo cavo.
Percebem onde, emfim, quero chegar?

O pé que idealizo, beijo e lavo
na lingua, no tesão, no paladar,
é aquelle que me tracta como escravo.


SADO REPISADO (SONNETTO 3444)
https://www.youtube.com/watch?v=ksvJKvuFOE4

Dum pé sadico o formato
de explanar jamais me enfado.
Nunca é cavo: é longo e chato,
vãos nos dedos, "espalhado".

Sim, de facto, um "pé de pato",
"bicco largo" no calçado.
Esse é o thema de que eu tracto
si me humilho e me degrado.

Bem mais curto é o "pollegar",
si a medil-o alguem chegar,
do que o dedo "indicador".

Eis o molde a que, em sonnetto,
sob a sola me submetto,
seja a "prancha" de quem for.


Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
http://correctororthographico.blogspot.com.br

Contacto directo com o auctor: mattosog@gmail.com

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