Mattoso explicitando: "Um de meus proximos livros, intitulado CURSO DE
REFLEXOLOGIA, tracta dos pés como objecto de massagem therapeutica.
Embora alguns achem que sacaneio debochadamente a massotherapia podal,
reaffirmo que só sacaneio respeitosamente. Antes de mostrar um dos
poemas thematicos do livro, quero exhibir um video bem didactico para
não deixar duvidas sobre a veracidade das minhas theorias holisticas."
Como massagear um pé tamanho grande:
SONNETTO 437 "DIDASCALICO"
Akira, o professor, me disciplina.
Apprendo a descalçar sapato e meia
usando, não a mão, que elle me freia,
porem a bocca, affan que não termina...
Por fim a meia sae. A pelle fina
do dorso, onde advoluma-se uma veia,
e a sola grossa a lingua massageia,
emquanto a voz do Mestre instrue, ferina.
Lambidas sejam lentas: "Não tem pressa!",
exige o Superior, refestelado.
Somente seu prazer é o que interessa.
"Assim que eu gosto!", falla com enfado.
E em cada vão de artelho que attravessa,
a lingua leva um tempo demorado...
Mattoso recapitulando: "Em 1977 fiz um sonnetto marginal chamado SPIK
(SIC) TUPYNIK e em 1984 Caetano lançou a canção LINGUA no disco VELÔ,
mas isso não significa que eu tenha suggerido algo que Caetano
approveitou. Pelo contrario: eu é que era influenciado pelo tropicalismo
e quiz sonnettizar o hybridismo anthropophagico da cultura tupyniquim. A
citação de Caetano apenas me incluia entre outros representantes desse
mesmo eclectismo em que accabei transformando o sonnetto emquanto genero
classico que pode ser crassico, ou crassista em vez de classista. Aqui
repriso esses dois momentos."
SPIK [SIC] TUPYNIK (SONNETTO 2)
Rebel without a cause, vomito do mytho
da nova nova nova nova geração,
cuspo no prato e janto juncto com palmito
o baioque (o forrock, o rockixe), o rockão.
Receito a seita de quem samba e roquenrola:
Babo, Bob, pop, pipoca, cornflake;
take a cocktail de coco com cocacola,
de whisky e estrychnina make a milkshake.
Tem hybridos morphemas a lingua que fallo,
meio nega-bacana, chiquita-maluca;
no rolo embananado me embollo, me embalo,
soluço - hic - e desligo - clic - a cuca.
Sou luxo, chulo e chic, caçula e cacique.
I am a tupynik, eu fallo em tupynik.
Mattoso respondendo: "Um leitor pergunta como consigo reagir com bom
humor às mensagens sadicas e sarcasticas dos bullyingueiros. Mas eu não
reajo com bom humor! Reajo com tesão masochista! Quem reage com bom
humor é um cego americano chamado Tommy Edison que, para começo de
conversa, é critico de cinema. Multimidiatico, elle se communica pelas
redes sociaes, sempre commentando de que maneira é affectado pela
cegueira na vida practica. Frequentemente, seu computador fallante lhe
passa (tal como o meu) os recados mais humilhantes, chamando-o de
cadella para baixo e suggerindo que deva comer merda. Quem entende
inglez vae curtir o espirito esportivo delle ante tal bullying. De minha
parte, thematizo isso em sonnettos como este, que estão no recem lançado
livro DESILLUMINISMO."
Mean comments to Tommy Edison:
SEM DOR NEM DÓ (SONNETTO 1071)
Ficou cego? O problema não é meu!
A minha vista é boa! Eu approveito
a vida como quero! Foi bem feito
você perder a pose! Se fodeu!
Tá achando tudo escuro que nem breu?
Tem mais é que soffrer! Eu me deleito
sabendo que não tenho esse defeito
nos olhos! Cê que chore o que perdeu!
Emquanto eu vejo o mundo livremente,
você tem que chupar a minha rola
calado! Si eu gozar, você que aguente!
E tire da cabeça a idéa tola
de que outros vão ter dó! Cê tá impotente!
Quem pode põe-lhe a picca, e eu posso pol-a!
Mattoso recapitulando: "Em 2001 sahiu pelo sello Rotten Records o CD
intitulado MELOPÉA, que incluia alguns sonnettos musicados pelos mais
diversos interpretes e grupos, no estylo eclectico de TROPICALIA. Por
emquanto ninguem se dispoz a postar no youtube faixa por faixa, mas
alguem ja se addeantou e disponibilizou o link abbaixo. Até que
apparesçam novos links com imagens excolhidas por cada interprete, dou a
lista das faixas com a minha declamação."
Mattoso recapitulando: "Em 1990, eu commentara no gibi CHICLETTE COM
BANANA o Campeonato Annual de Tennis Podres (Annual Rotten Sneaker
Contest) que premia o pé mais chulepento dos States. Naquella occasião,
o concurso estava na 15ª edição. Em 2008, em sua 33ª edição, o evento
ganhava o noticiario internacional com videos e photos na rede virtual,
mostrando o vencedor, Ben Russell, um garoto de quinze annos, cujos
tennis fedidos lhe valeram um premio em dinheiro e uma viagem a Nova
York. A etapa final do campeonato occorreu na cidade de Montpellier,
estado de Vermont. Eis o contehudo que circulou pelas agencias de
noticias."
[Montpelier, Vermont - March 19, 2008: Montpelier is once again the
location for some really smelly foot wear. The 33rd annual Rotten
Sneaker Contest was held there Tuesday-- with local "talent" matched up
against stinky feet from around the country. This year's winner was
Benjamin Russell from Eagle River, Alaska. He won $2,500, a trip to New
York City and a supply of Odor-Eaters products. Eight kids, ages seven
to fifteen, from across the country, descended on the small town of
Montpelier today wearing sneakers so decrepit and odorous, even the town
dump wouldn't take them. Why? To participate in the annual National
Odor-Eaters Rotten Sneaker Contest. Each has won a regional contest and,
therefore, earned a place in the national finals. In the end,
Fifteen-year old Benjamin Russell took home the grand prize with a pair
of two year-old sneakers that nearly caused the judges to pass out.
Celebrating its 33rd year, the National Odor-Eaters Rotten Sneaker
Contest is the ultimate test of just how offensive sneakers can get when
they're not taken care of properly. Ben Russell has a title most people
would walk away from. Russell, 15, from Eagle River, Alaska, beat seven
other contestants from around the country to claim the title of
rottenest sneakers in the country. He won the championship in
Montpelier, Vermont, in the annual Odor-Eaters Rotten Sneaker Contest,
sponsored by the shoe insert maker.]
Torneio de tennis (competidor: Ben Russell)
Torneio de tennis (competidor: Chris McNutt)
Torneio de tennis (competidor: Kane Young)
Torneio de tennis (competidor: Logan Smith)
Torneio de tennis (competidor: Mason Young)
SONNETTO PARA UM INFAME CERTAME (I) [2391]
Cansei ja de fallar, mas pouca gente
em mim accreditou. Agora um novo
evento patenteia como o povo
de la tem seu costume differente.
Refiro-me aos Esteites: nota urgente
agita as redacções, e eu me promovo,
pois, graças, de Colombo, a mais um ovo,
estou, faz tempo, nisso experiente.
Consiste num concurso de chulé
a exotica noticia que, aos jornaes
daqui, foi facto extranho, mas não é...
Um joven (quinze anninhos) foi quem mais
narizes convenceu de que seu pé
meresce menos bronca de seus paes...
SONNETTO PARA UM INFAME CERTAME (II) [2392]
Ja desde a velha decada de oitenta
que eu faço do torneio propaganda,
mas custa, por aqui, que a coisa expanda
seu nivel de interesse, e a marcha é lenta.
O patrocinador que, la, sustenta
o evento é algum perfume de lavanda
ou pinho, que o custeia e aos jovens manda
que exhibam a chulapa chulepenta.
Moleques cujos tennis tenham cheiro
mais podre, e que à distancia o jury o sinta,
são fortes candidatos a primeiro...
Porem só ganha o premio quem la pinta
disposto a ver seu pé cheirado, inteiro,
por "velhos" que até tenham mais de trinta...
SONNETTO PARA UM INFAME CERTAME (III) [2393]
Quando é preliminar, julga a disputa
um corpo de jurados bem menor,
de apenas trez ou quattro, que o suor
do joven acquilata em regra arguta.
Ja fui desses juizes: quasi chuta
meu rosto um marmanjão, que era o peor
chulé da California, um pé maior
até que o dum adulto, e expressão bruta.
Na sola lhe fucei, e o cara ria
emquanto entre seus dedos meu nariz
metti, pois desse jeito se advalia...
Lhe dei ponctuação que o fez feliz
e, apoz ganhar o premio, elle queria
até me dar seu tennis... E eu o quiz!
SONNETTO PARA UM INFAME CERTAME (IV) [2394]
Guardei essa reliquia, e ainda a adspiro,
mas ja perdeu o cheiro que ganhara
o titulo local. Aquelle cara
venceu mais campeonatos, virou "hero".
A scena está bem viva: lhe retiro
do pé, bem lentamente, a joia rara
que à prancha do skatista se compara,
tamanho o comprimento... E quasi piro!
Por dentro, aquelle tennis parescia
a fossa destampada e envenenada
que a gente ja cheirou, na vida, um dia...
Bem fundo cafunguei e, para cada
quesito, constatei, com alegria,
mais podre não haver, em jogo, nada...
SONNETTO PARA UM INFAME CERTAME (V) [2395]
Quem eram, me perguntam, os juizes
que estavam, a meu lado, dando nota
a um joven que descalça sua bota,
seu tennis, seu sapato...? Astros? Actrizes?
Será que elles se sentem tão felizes
e honrados quanto eu mesmo? Não denota
nenhum delles pedir a quem lhe bota
na cara a sola: "Quero que me pises!"
São mães, são pharmaceuticos, são, numa
local communidade, quem lecciona,
quem treina, e com "teenagers" se accostuma...
No meio delles, claro, está um cafona
e sobrio funccionario, que não fuma,
só vende seu Advanço ou seu Rexona...
SONNETTO PARA UM INFAME CERTAME (VI) [2396]
No tempo do "Chiclette com Banana",
gibi no qual fui sujo columnista,
fiz sobre o caso um texto, a que a revista
deu optimo destaque e um ar sacana.
Lidissimo na zona suburbana,
por toda uma galera de skatista,
rockeiro e fanzineiro, está na lista
dos "classicos" o artigo que me ufana.
Por causa do relato, ainda sou,
às vezes, convidado, mas ja não
viajo: cego e triste, perco o show...
Anima-me, entretanto, que um pezão
fedido 'inda concorra, e agora estou
torcendo pela nova geração...
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
http://correctororthographico.blogspot.com.br
Mattoso recordando: "Alem de obra-prima cinematographica em si mesma, a
versão filmada de TOMMY dirigida por Ken Russell retracta fielmente a
imaginação sadomasochista de Peter Townshend, principalmente na canção
'Cousin Kevin', para mim a mais symbolica quanto ao bullying de cegos
pelos normovisuaes. Um de meus innumeros sonnettos sobre o thema está no
livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem previsão para sahir na edição
impressa."
GEMMAS DO CINEMA (VIII) [sonnetto 4064]
Ainda de Ken Russell é a versão
de "Tommy" para as telas. Nella, o cego,
que nada diz nem ouve, aguenta o prego
da cruz aos pés dum primo folgadão.
Deixaram-no os adultos bem na mão
de Kevin, o priminho que tem ego
de sadico e nazista: "Agora eu pego
você! Vamos brincar! Que diversão!"
E o primo se approveita da cegueira
de Tommy: o faz de gatto e de sapato,
practica nelle tudo quanto queira.
A scena mostra a cara do cordato
ceguinho entre dois pés que a costumeira
botina calçam: close em poncto exacto.
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
http://correctororthographico.blogspot.com.br
Mattoso recuperando: "Do tempo em que eu enxergava são estes trechos do
livro MANUAL DO PODOLATRA AMADOR. Ja na era digital, compenso a cegueira
gravando declamações em video, accompanhadas de imagens escaneadas.
Quero ver (Ops!) si algum leitor tem o pé grego e chato alludido nos
sonnettos..."
{Tudo isso me carreou reputação parallela à de poeta maldicto, que, até
ser temporariamente relegada ao limbo com a chegada da cegueira,
renderia no minimo uma bella pasta de correspondencia, volumoso
inventario de depoimentos, confidencias, propostas e phantasias. Alguns
missivistas se prendiam aos telegraphicos limites do aerogramma, onde só
uma face do papel era approveitavel. Conseguiam approveital-a ao maximo,
traçando com canneta o contorno da sola appoiada sobre a folha e
escrevendo dentro do contorno. Ommitto os nomes dos remettentes, mas as
palavras são litteraes.}
{Glauco, o que mais me excitou na entrevista (Folha-SP) foi o character
libertador, anticonsumista e antiesthetico que possibilitou a minha
acceitação do meu pé superdotado. Cada vez que você mencionava um pé em
verdadeira idolatria eu o imaginava deante dos meus dedões purulentos
com resquicios de bichos-de-pé não de todo extirpados na infancia. Me
contorci de prazer ao imaginar o fim de minhas frieiras ao contacto de
sua lingua asquerosa. Foi tão importante para mim esta acceitação da
minha autoimagem que eu vou abandonar o uso dessa litteratura
submundista que era a unica forma de extravasar meus impulsos
reprimidos.}
{Glauco, achei o maior barato sua entrevista na "Folha da Tarde". Segue
o formato e tamanho do pé, tenho os dedos com alguns pellinhos e uma
frieira no mindim, em tractamento ha 2 annos. Sou vidrado nos pés das
minhas namoradas, ellas ficam com um tesão intenso, que culmina em OMs
(orgasmos multiplos). [...] Não o achei louco maluco, te achei
liberado.}
Mattoso recordando: "No filme MINHA ADORAVEL LAVANDERIA, um de meus
predilectos emquanto pude assistir, fica evidente o papel dos pés na
cultura pakistaneza, mesmo quando ambientada em Londres: o patriarcha da
familia é massageado nos pés pelas meninas, o filho corta as unhas dos
pés do pae e é pisado na cara pelo primo. Vale reprisar o que thematizo
no sonnetto abbaixo, incluido no livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem
previsão para sahir na edição impressa."
GEMMAS DO CINEMA (VII) [sonnetto 4060]
Descalço é o pé que Stephen Frears grava,
em close, sobre a cara do ladino
rapaz pakistanez que, em Londres, tino
demonstra si, por grana, roupas lava.
O primo é quem o pisa, si uma escrava
não tem na propria esposa. Esse menino
pisado, por signal, tem um londrino
punkinho como caso, se notava.
Do pae cortava as unhas do pezão
e, agora, o primo pisa em sua cara
com força, com despeito e com tesão.
Paresce que normal ja se tornara,
naquelles que proveem do Pakistão,
ter pelos pés algum typo de tara...
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
http://correctororthographico.blogspot.com.br
Mattoso registrando: "Dos filmes que ja não pude ver, a serie de
episodios da CENTOPÉA HUMANA vem a ser o thema que mais sonnettizei. A
phantasia de Tom Six configura da forma mais grottesca a these
coprophilica de Sade, dahi a enorme repercussão viralizada do filme,
muito alem do que a midia official noticiou. Junctei os sonnettos
allusivos no livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem previsão para sahir
na edição impressa."
GEMMAS DO CINEMA (XII) [sonnetto 4108]
Agora, no circuito americano
(Será que tambem chega ao brazileiro?),
dum filme atroz, terrivel, eu me inteiro
e o longa para manga nos dá panno.
De medico e de monstro é o caso insano,
pois liga-se uma bocca num trazeiro,
unindo trez humanos nesse inteiro
"lacraio": assim Tom Six expoz seu plano.
No chão come o primeiro e, pelo anal
canal come o segundo! Recagada
a merda é no terceiro, mais fecal!
De quattro, a "centopéa" se degrada,
rasteja, morde a bota do infernal
doutor, que a tracta a chute e chibatada!
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
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Mattoso rememorando: "Um dos filmes que marcaram a minha geração
(inclusive pelo thema musical, que virou symbolo de trilha para trepada)
foi um classico da contracultura: JE T'AIME MOI NON PLUS (no Brazil,
PAIXÃO SELVAGEM), de Serge Gainsbourg, cujo momento culminante para os
podolatras é aquella do pezão do Joe d'Alessandro na bocca da garota que
o xinga de "pédé" (pederasta), ja que elle só goza si for por traz, como
faz com os homens. Para revisitar a scena, illustro-a com um dos
sonnettos do livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem previsão para sahir
na edição impressa."
https://www.youtube.com/watch?v=ulG5Ss1JgOY
GEMMAS DO CINEMA (V) [sonnetto 4054]
Tambem Gainsbourg achou que uma mulher,
embora seja androgyna, meresce
jogada ser da cama, si se esquece
de ter respeito ao macho, ao que elle quer.
Si não lhe obedescer, si não lhe der
o cu, seu garotão ja se emputesce.
Chamal-o de "pedê", qual si dissesse
"Brochou por que?", gorar-lhes vae o affair.
No chão, ainda o xinga. Elle lhe cala
a bocca com o pé, com o pezão
na cara, aquella lancha a admordaçal-a.
Depois, o cu lhe come: ella ja não
contesta. Admordaçada, ella se eguala,
na practica, ao pedal dum caminhão.
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
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Mattoso gratificado: "Vivo citando casos poeticos de pisantes sendo
engraxados com a lingua, mas a propria TV aberta ja exhibe exemplos
litteraes como este, que thematizo nos sonnettos abbaixo, incluidos no
livro EPHEMERDAS, ainda inedito em formato impresso. Nada como a vida
real, ou pelo menos em reality, mesmo que fake..."
SONNETTO 5489 DUM MALTRAPPILHO QUE DEU BRILHO (I) (2012)
Si imagino que me tracte
com sadismo quem a bota
suja calça, um disparate
não commetto, ja se nota.
Minha lingua se debatte
entre cano e bicco, ropta
percorrida até que um vate
cego engraxe a sua quota.
Mas accerta quem adopta
outros termos e chacota
nunca faz dum engraxate...
Pois é delle o dia! Vote
no engraxate e, um dia, annote:
urnas une e em patrões batte!
SONNETTO 5490 DUM MALTRAPPILHO QUE DEU BRILHO (II) (2012)
Homenagem eu proponho
ao garoto da flanella:
o engraxate, que, em meu sonho,
eu encarno. A scena é bella:
Me obriguei, não me envergonho
de dizer, a dar naquella
bota immunda, dum medonho
bandidão, a lambidela.
Mas, na data que se presta
a saudal-o, inverto eu esta
phantasia punheteira...
Delle a gente é que o sapato
engraxar devia! Eu batto
nelle a bronha, caso queira!
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
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Mattoso reprisando mentalmente: "Alem de Kubrick, um de meus directores
predilectos é Ken Russell, não só por TOMMY mas por CRIMES DE PAIXÃO, em
que uma prostituta de dupla personalidade (China Blue, que inspirou
Angeli a crear a Mara Tara) mostra o que se deve fazer no pé do rapaz
para que elle se sinta à vontade. A scena é thema do sonnetto abbaixo,
incluido no livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem previsão para sahir
na edição impressa."
GEMMAS DO CINEMA (VI) [sonnetto 4059]
Ken Russell, ao contrario do francez,
colloca o joven macho em posição
mais fragil, e quem lambe o seu pezão
é China Blue, a puta. Eis os porquês:
De dia, seria e sobria, o mais burguez
dos circulos frequenta. À noite, não
será jamais a mesma: seu tesão
está na perversão, na sordidez...
Transforma-se em tarada e, si um rapaz
careta a procurar, ella seu pé
descalça e no dedão boquete faz...
O cara mal consegue botar fé
naquillo que está vendo: é Satanaz
em forma de mulher, ella, não é?
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
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Mattoso recuperando: "Do tempo em que eu enxergava são estes trechos do
livro MANUAL DO PODOLATRA AMADOR. Ja na era digital, compenso a cegueira
gravando declamações em video, accompanhadas de imagens escaneadas.
Quero ver (Ops!) si algum leitor tem o pé grego e chato alludido nos
sonnettos..."
{Tudo isso me carreou reputação parallela à de poeta maldicto, que, até
ser temporariamente relegada ao limbo com a chegada da cegueira,
renderia no minimo uma bella pasta de correspondencia, volumoso
inventario de depoimentos, confidencias, propostas e phantasias. Alguns
missivistas se prendiam aos telegraphicos limites do aerogramma, onde só
uma face do papel era approveitavel. Conseguiam approveital-a ao maximo,
traçando com canneta o contorno da sola appoiada sobre a folha e
escrevendo dentro do contorno. Ommitto os nomes dos remettentes, mas as
palavras são litteraes.}
{Glauco, o que mais me excitou na entrevista (Folha-SP) foi o character
libertador, anticonsumista e antiesthetico que possibilitou a minha
acceitação do meu pé superdotado. Cada vez que você mencionava um pé em
verdadeira idolatria eu o imaginava deante dos meus dedões purulentos
com resquicios de bichos-de-pé não de todo extirpados na infancia. Me
contorci de prazer ao imaginar o fim de minhas frieiras ao contacto de
sua lingua asquerosa. Foi tão importante para mim esta acceitação da
minha autoimagem que eu vou abandonar o uso dessa litteratura
submundista que era a unica forma de extravasar meus impulsos
reprimidos.}
{Glauco, achei o maior barato sua entrevista na "Folha da Tarde". Segue
o formato e tamanho do pé, tenho os dedos com alguns pellinhos e uma
frieira no mindim, em tractamento ha 2 annos. Sou vidrado nos pés das
minhas namoradas, ellas ficam com um tesão intenso, que culmina em OMs
(orgasmos multiplos). [...] Não o achei louco maluco, te achei
liberado.}
Mattoso recapitulando: "A primeira scena podomasochista que vi no cinema
foi num filme de Chabrol, UNE PARTIE DE PLAISIR (que no Brazil foi
traduzido como UMA FESTA DE PRAZER), ao qual me referi no MANUAL DO
PODOLATRA AMADOR nestes termos. O sonnetto que se segue faz parte do
livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem previsão para sahir na edição
impressa."
{Em "Uma festa de prazer", de Claude Chabrol, a scena culminante
accontesce na beira da cama. O "macho machista", sentado, faz a "femea
feminista" adjoelhar-se no chão e manda que ella lhe lamba o pé
descalço. Apoz a primeira lambida a mulher quer parar, mas um gesto do
queixo delle mudamente ordena que continue, e a lingua dá a segunda, a
terceira, como um gattinho no prato de leite.}
Scena de Chabrol em quadro pintado:
Scena de Chabrol em site de filmes francezes:
GEMMAS DO CINEMA (IV) [sonnetto 4053]
Si, em Kubrick, o rapaz lambe um sapato
por baixo e suja a lingua no solado,
Chabrol põe a mulher, por outro lado,
lambendo o pé dum macho chucro e chato.
Posar de liberal quer, mas, de facto,
o cara é ciumento. Inconformado
ao ver que sua esposa tem passado
algum tempinho fora, diz: "Te macto!"
Da cama a joga ao chão. Descalço, manda
que lamba seu pé branco. Si ella hesita,
ordena o cara: "Lambe, mulher, anda!"
No dorso a scena mostra uma bonita
actriz passando a lingua. Menos branda
será, depois, na sola, tal desdicta.
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
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Mattoso repercutindo: "Muitos de meus sonnettos retractam o abuso do
cego pela molecada, mas, ao contrario do que suppõem alguns leitores,
não se tracta de hallucinação minha, muito menos de phenomeno
terceiromundista, como fica patente neste video, ao qual accrescento um
de meus sonnettos mais leves, incluido no livro DESILLUMINISMO, agora em
edição pelo sello goyano Martello."
SONNETTO GAIATO [1077]
Ouvi, quando passava na calçada:
a joven voz, sarcastica, de estalo
repicca, martellando seu badalo
prophano, gargalhando, debochada.
Risada de moleque, mas marcada
ja pelo timbre adulto. Ando e bengalo,
sabendo que dou gozo e, ao provocal-o,
me sinto reduzido a caca, a nada.
De mim falla o rapaz ao seu collega:
"Tá vendo aquelle la, cara? Que sarro!
Ficou cego! Ou tropeça, ou escorrega!"
Os dois ficam torcendo, e quasi esbarro
no poste. Sei que a mão elle até esfrega
na rola, quando atolo o pé no barro.
Sobre o methodo de escripta adoptado pelo auctor, accessem:
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Mattoso recapitulando: "Nos annos 1990, quando eu accabava de perder
toda a visão e collaborava com o sello independente Rotten Records na
edição de collectaneas tribaes como URBANOISE, fui filmado para
videocassette lambendo a bota e o pé dum extranho trazido pelo cineasta
do trash movie, que me editou ao som dos Billy Brothers, uma das bandas
gravadas pela Rotten. Agora recuperado digitalmente, o video foi
disponibilizado na rede e eu o revisito com este sonnetto, incluido no
livro O CINEPHILO ECLECTICO, ainda sem previsão para sahir na edição
impressa."
GEMMAS DO CINEMA [I] (SONNETTO 4033)
Achou-se, emfim, o filme que commigo
foi feito annos attraz: a scena pega,
em close, minha lingua, que se esfrega
na sola duma bota, e as ordens sigo.
O actor, que a calça, entrou por ser amigo
do proprio director e meu collega
de penna, não de pena. A vista cega
não tendo, elle relaxa e eu, só, me obrigo.
A camera empunhando, o director
exige: "Passa a lingua, Glauco, passa
de novo! Agora! Assim! Sente o sabor!"
E eu raspo, na borracha, esta devassa
e grossa posta: aguento o azar, a dor,
ao passo que os dois jovens acham graça.
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