sábado, 10 de janeiro de 2015
NOVEMBRO/2014: PHALLO FALLADO, CALÃO CONSENTIDO
Dois themas novembrinos (Ou novembreiros? Ou novembrescos? Ou
novembristas? Ou novembrosos? Ou novembrudos? Ou novembrados? Que lingua
abundante e carente, esta nossa!) que ja me suscitaram desabbafos são as
datas para finados e diabetes, mas, por coincidencia, accabo de abbordar
taes topicos na chronica do mez passado. Fico então com a sempre
opportuna commemoração que, neste ou naquelle almanach, consta da agenda
do dia 5, o dia nacional da lingua portugueza, vigente desde 2006 e
allusivo ao anniversario de Ruy Barbosa.
Vem a proposito esse enfoque brazileiro sobre a matriz lusa, pois, como
é consensual, o poema mais definitivo thematizando o nosso idioma não é
de Camões, nem de Bocage, nem de Quental, nem de Pessoa, mas sim de
Bilac, o paradigma parnasiano do perfeccionismo, com o civismo incluso
no pacote. Poucos sabem que, alem do sonnetto à lingua portugueza, Bilac
compoz um para a musica brazileira, que, por ser anterior ao proprio
samba, nem de longe synthetiza a riqueza e a diversidade do cancioneiro
tupyniquim nas decadas de trinta em deante.
Como todo classico, Bilac foi bastante parodiado, principalmente no
sonnetto "Ouvir estrellas", mas ninguem ousou brincar com algo tão
petreo como a lingua nativa. Mesmo que brincassem, não ultrapassariam os
limites do humor innocente que se verifica na maioria das parodias. Foi
ahi que entrei e resolvi bagunçar um pouco esse coretto. A parodia que
compuz foi elaborada durante um laboratorio na Casa das Rosas, em 2005,
dentro da officina que ministrei sob o titulo "O verso fescennino: curto
e fino". Posteriormente, inclui aquella satyra como exemplo do genero no
TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO que sahiu em livro e foi contehudo digital na
decada passada.
Claro que não reivindico primazia alguma, pois Gregorio ou Bocage
provavelmente se me teriam antecipado (no que se metteriam
galhardamente), caso Bilac não lhes fosse postero. Apenas assumo meu
radicalismo chulo, sem o qual o procedimento parodico não teria, para
mim, a graça desbragada que, fora dos parametros esthetico-philologicos,
o portuguez offeresce aos desboccados e sonega aos puristas e puritanos.
Isto dicto, seguem-se o original bilaquiano e minha leitura
pornographica.
LINGUA PORTUGUEZA [Olavo Bilac]
Ultima flor do Lacio, inculta e bella,
És, a um tempo, exsplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhescida e obscura.
Tuba de alto clangor, lyra singella,
Que tens o trom e o silvo da procella,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exilio amargo,
O genio sem ventura e o amor sem brilho!
LINGUA PUTANHEIRA [sonnetto 1012]
A lingua deflorada, puta bella,
a um tempo é despudor e compostura.
Menina virgem, sim, porem impura:
tem cabacinho mas caralhos fella.
Quero-te assim, cu doce e picca dura,
caricia, acto de amor, curra barrela,
que tens o dom e o vicio da donzella
e o ardor da crueldade e da tortura!
Amo teus bardos, anjos de Sodoma,
bastardos de olho vivo e de anus largo!
Amo-te, ó grosso e doloroso idioma,
em que o Pae me chamou "da puta filho"
e em que eu choro a cegueira e canto o encargo
de usar-te a lamber botas, dando um brilho!
///
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário