Si bastasse ter um dia de protecção ou de lucta, as mulheres estariam
com tudo, pois, alem dos dias nacional e internacional da mulher, existe
o dia das mulheres do campo e o dia de lucta contra a exploração da
mulher, sem fallar no dia das mães, da vovó, da sogra, da cozinheira, da
enfermeira ou da prostituta.
Mas, em novembro, o dia 25 foi reservado para o thema da violencia
contra a mulher, particularmente interessante porque envolve a aggressão
sexual, chamada de "estupro" quando a vagina é penetrada e de
"attemptado violento ao pudor" quando a penetração forçada viola o cu ou
a bocca da victima. Isso segundo o jargão juridiquez, que
deliberadamente ignora o estupro contra homens, tal como a rainha
Victoria ignorava o lesbianismo. Curioso é que, de meus tempos de
adolescente, lembro-me de certos filmes dublados ou legendados que
traduziam o estupro oral da mulher como "crueldade mental", que, no
original americano, seria, litteralmente, "mental cruelty", figura
juridica ainda mais euphemistica que "attemptado violento ao pudor", e
mais suggestiva das intenções sadicas do aggressor, usada inclusive como
justificativa para pedidos de divorcio por parte da esposa ultrajada...
Para bom entendedor, seria como si dissessem: si a mulher appanha para
chupar, é "physical cruelty"; si chupa para não appanhar, seria "mental
cruelty".
Claro que nem toda a violencia é sexual, mas, geralmente, a mulher dicta
"de malandro" não apenas appanha delle como leva a consequente "surra de
picca". Si ella "gosta de appanhar" nem vem ao caso, ou viria, si, de
accordo com Nelson Rodrigues, "nem todas as mulheres gostam de appanhar,
só as normaes".
Toda a argumentação feminista contra o machismo domestico soa até
anachronica, no seculo actual, face à barbarie commettida pelos
jihadistas islamicos sobre suas escravas, ou antes, prisioneiras de
"guerra sancta", um medievalismo do tempo das cruzadas que volta a
assombrar o mundo, passados tantos seculos. A proposito do tractamento
dado à mulher pelo radicalismo islamico é que fui buscar um sonnetto de
Valentim Magalhães, tão modellar que foi incluido por Bilac em seu
TRACTADO DE VERSIFICAÇÃO. Em seguida, appresento algo de minha auctoria.
SONNETTO [Valentim Magalhães]
Ante a mesquita de aureos minaretes
açoitam dois telingas a trahidora.
As vergastas, subtis como floretes,
sibilam sobre a carne temptadora.
À vibração das varas, estremescem
seus niveos membros, firmes, delicados,
e, nos espasmos do soffrer, parescem
das contorsões do gozo electrizados.
Geme aos golpes, que as carnes lhe retalham,
e, aberta a rosea bocca, os olhos bellos
perolas vertem, que seu peito orvalham.
Dobram-se as curvas, soltam-se os cabellos,
e do alvo collo, admargurado e exsangue,
- como esparsos rubis - gotteja o sangue.
No livro O GLOSADOR MOTTEJOSO eu tinha glosado o motte abbaixo, corrente
na cantoria nordestina, do qual fiz uma releitura em forma de
sonnettilho no recemlançado livro SACCOLA DE FEIRA. Comparem e notem
que, na primeira leitura, o rhythmo da redondilha não tem accento fixo
na terceira syllaba. Mais recentemente, glosei outro motte, pertinente
ao thema deste mez, e aqui ja mantenho o rhythmo accertado no
sonnettilho. Confiram:
<http://cl.s6.exct.net/?qs=170b59a38d0aa656ed12f2847aefb1c9b455ca74c4c7e7d0397fd2da044ed403>
MOTTE GLOSADO
Na proxima encarnação
eu prefiro ser mulher.
Mais opprimidos, quem são?
Negros? Indios? Pobres? Loucos?
Não quero ser desses "poucos"
na proxima encarnação!
A casta dos sem-visão,
mais baixa que outra qualquer,
ao abuso é de colher!
Si é para chupar caralho
e tomar no cu que valho,
eu prefiro ser mulher!
A VOLTA DO MOTTE DO SEXO [3648]
Um poeta que eu conhesço,
talentoso e creativo,
diz que paga caro o preço
por não ter sexo passivo:
"Eu queria pelo avesso
ter nascido, à luz dum crivo
genital! Sou macho, e esqueço:
de qualquer gloria me privo!"
E elle affirma: a poetiza,
de talento nem precisa,
si tem algo a dar e der...
Não invoca o motte em vão:
"Na proxima encarnação
eu prefiro ser mulher!"
MOTTE GLOSADO
Nas mulheres não se batte
nem siquer com uma flor.
Sobra macho que as maltracte:
chutes, socos, bofetadas...
Só com flores perfumadas
nas mulheres não se batte!
Uma excappa caso accapte
o que exige o seu senhor:
chupa, engole, aguenta odor
com o qual não se accostuma,
um bodum que não perfuma
nem siquer com uma flor.
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