sábado, 11 de abril de 2015

MARÇO/2015: NOMES DE LETTRAS DANDO SOPA DE LETTRINHAS

No idioma inglez cada pessoa tem seu prenome abbreviado, em familia ou
entre amigos, e taes hypocoristicos teem, às vezes, equivalentes em
portuguez. Assim, Elizabeth fica Liz (para nós, Bete) ou, no diminutivo,
Lizzy (para nós, Betinha); Robert fica Bob (Beto) ou Bobby (Betinho);
Joseph fica Joe (Zé) ou Joey (Zezinho); Francis fica Frank (Chico);
Edward fica Ed (Dudu), e assim por deante. Alguns hypocoristicos só
funccionam em inglez mesmo, como Mick para Mickey ou Mike para Michael,
Tom para Thomas ou Tony para Anthony. Por isso o nosso Tom Jobim nada
tinha de americanizado, ao contrario do que accusava o critico José
Ramos Tinhorão. Era apenas uma forma alternativa para Tonho, bem
brazileira, como o Brazileiro que compunha seu nome.


Nossos anthroponymos ja tiveram appellidos mais communs. Joaquim era
sempre Juca ou Quincas. Manuel era Mané. Antonio era Tonho ou Tonico.
Hoje virou bagunça. Alguem pode ser baptizado como Juca mesmo, sem ser
Joaquim. Antes, Carlos Eduardo era Cadu e Carlos Henrique era Caique.
Maria Luiza era Malu e Maria Lucia era Maluca. Agora, o fulano é Cadu ou
Caique e a fulana Malu ou Maluca na propria certidão de nascimento. Isso
para não entrar no terreno dos modismos suppostamente "indigenas", typo
Kauan ou Tayná... Emfim, vale tudo, como attestam os elenchos dos nossos
times de futebol, cheios de Robson, Jobson, Madson, Jadson e quetaes.


Para quem gosta de bollar anagrammas, isso facilita a vida, claro. Um
Retson pode virar Nestor, ou um Aricson virar Narciso, para fugir da
vulgaridade. Na litteratura, o recurso sempre funccionou, como no caso
de America, que virou Iracema. A poesia é terreno propicio a taes
truques verbaes, desde o barroco até o concretismo, e não fiquei immune
à temptação. Feita a digressão, vamos ao gancho chronologico.


Ja evoquei diversas vezes as datas commemorativas da poesia, duas dellas
em março, mas o dia 12, consagrado ao bibliothecario (anniversario do
poeta Bastos Tigre, tambem profissional da area bibliotheconomica),
egualmente me diz respeito, ja que me bacharelei nessa area em 1972,
pela Eschola de Sociologia e Politica de São Paulo, e exerci por breve
tempo o cargo como funccionario do Banco do Brazil no Rio. O dictado
"Casa de ferreiro, espeto de pau" calha bem no meu caso, pois nunca
cataloguei nem classifiquei meus proprios livros para accommodal-os na
estante. Mal e mal os aggrupei por tamanho ou typo de lombada, quando
ainda eram numerosos e volumosos. Hoje quasi que me limito a conservar
os livros de minha auctoria e uns poucos classicos ou obras
referenciaes.


Mas o dictado poderia ser "Casa de Ferreira...", dado que meu sobrenome
remette a uma das difficuldades da profissão, agora attenuada pelo
advento da internet: pesquisar os nomes correctos e completos
(orthonymos) dos auctores fichados. Nesse aspecto, faço mea culpa e
confesso que difficultei o trabalho dos collegas com meus varios
pseudonymos e heteronymos, alem dos cryptonymos, dos cyberonymos e dos
mais hybridos litteronymos. Ultimamente estive occupado com isso e acho
que meia duzia de interessados talvez queiram saber do que tracto.


Antes de assignar como Glauco Mattoso qualquer coisa que parescesse
litteraria, tentei bollar um pseudonymo menos commum que meu nome
proprio, Pedro José Ferreira da Silva. Mesmo que eu graphasse Sylva,
unica differença entre a actual e a antiga orthographia (ou a graphia
ideal que eu queria para a lingua portugueza), o nome continuaria vulgar
demais para o meu gosto. A solução mais temptadora foi crear um
anagramma, ou melhor, excolher entre innumeros anagrammas possiveis para
um orthonymo tão propicio a homonymos.


O primeiro que me occorreu foi José Sylveira da Pedra-Ferro, que daria a
assignatura litteraria José Pedra-Ferro. Só cheguei a usal-o em alguns
ex-libris carimbados nos primeiros volumes da minha bibliotheca, ja que
Glauco Mattoso se impoz desde o primeiro poema, "Kaleidoscopio", em
1974. Concluida a cega safra de sonnettos, que durou de 1999 a 2012, a
idéa de usar aquelle anagramma voltou como alternativa para a
previsibilidade de algo assignado por Glauco Mattoso, tal como uma
collectanea de sonnettos sobre cães das raças basset hound ou dachshund,
intitulada O BATATO E O BERINGELO.


Entrementes, outro anagramma tomou vulto, para a auctoria duma inedita
collectanea de sonnettos e mottes glosados de thematica prophana,
intitulada INCONFESSIONARIO. O heteronymo Padre Feijó viria de Padre
Sade Feijó Serra Virol, a quem attribuo o seguinte motte glosado que
enviei por email a meus contactos:



Deus te abbençoe, meu filho,
e quem te for da familia!


Com meus irmãos compartilho
a sancta graça do Pae
e minha reza aqui vae:
Deus te abbençoe, meu filho!
Mas sempre algum peccadilho
na minha bençam se pilha
e caio em cada armadilha!
Alguma cacophonia
à parte, em mim (Amen!) fia
e quem te for da familia!



Um amigo observou que o verso do fecho é "piada corrente", desattento
para o poncto relevante de que, corrente ou não, o que importa é o
encaixe da idéa no rigido formato da glosa, composta em redondilha maior
accentuada, aqui, na quarta syllaba. Outro detalhe foi que precisei
corrigir a versão corrente, diffundida como "e os que te for da
familia", evidente equivoco grammatical, ja que "os" só concorda com
"forem", o que invalidaria o cacophato. Esclarescido o retoque,
approveito para fallar de outras possibilidades anagrammaticas que
pretendo usar, para maior confusão daquelles gattos pingados que estudam
minha obra ou tentam registral-a, bibliographicamente correcta.


O anagramma Adderval Rijo Freyre Pessoa, abbreviado para Adderval
Pessoa, ficou reservado para as collectaneas cyclicas de sonnettos O
CIRANDEIRO e MINGAU DAS ALMAS, alem da collectanea de decimas A VOLTA DO
GLOSADOR MOTTEJOSO, cuja preparação ganhou folego com o encerramento da
producção sonnetistica.


O anagramma Israel David Jeferre Raposo, abbreviado para David Raposo,
figurará na auctoria das collectaneas cyclicas O LOBO DO HOMEM e
PSYCHOTROPICOS.


O anagramma Vereador Jilder Posse Faria, abbreviado para Vereador Faria,
assignará a collectanea INGOVERNABILIDADE, tambem inedita em livro,
focada em poemas satyricamente politicos.


O anagramma Professor Alê Jadder Vieira, abbreviado para Professor
Vieira, fica para a collectanea INCOMPETITIVIDADE, de sonnettos
futebollisticos.


Ja o heteronymo Sergio Sider forma anagramma com o titulo FEDOR E
PALAVRA dado a outra collectanea de sonnettos e glosas. O anagramma
seria perfeito si eu graphasse "Serjio". O mesmo se dá com o Dr. Serra
Versejo, que forma anagramma com o titulo da collectanea PAEDOPHILIA, e
com o Dr. Josaphé Sylvereda, que forma com o titulo da collectanea
ARREPIO, ou com o Fr. Sereio Jr. com o titulo da collectanea PEROLA
DESVIADA.


Nem sei si todas essas collectaneas sahirão impressas ou si algumas só
existirão em edição virtual, mas fica prompto o projecto, lembrando que,
na pelle de Glauco, ainda tenho muitos outros volumes engavetados.


Accabei deschartando, por emquanto, diversos embaralhamentos mais
comicos, typo Josias Levi Ferrado Pedrera, "Jefe" Salvador Peidorreiras,
Josias Arrafeder "Pedilover", Jofre da Porrada Viles Reyes, Javarry
Pererê Fodido Lessa, Professor Jededia Varrelia, Prof. Elvis Derradeiro
Ajaes ou José Vaddão Ferrari Presley. Assim como o vicio dos creadores
de palindromos se exgotta na forçação de barra, a mania do anagramma
pode redundar em monstrengos onomasticos de effeito meramente ludico.
Por isso parei por ahi.


E ja que exemplifiquei accyma uma glosa do Padre Feijó, cabe addeantar
uma do Vereador Faria, com a qual me despeço até o mez que vem.



Ora, deixa como está
para ver como é que fica!


Em politica, não ha
melhor phrase que defina
o que fica na latrina:
"Ora, deixa como está!"
Quem alli cagou não dá
a descarga, mas dá dica
de que egual acha a titica
ao seu voto, a merda ao motte.
No cagão você que vote
para ver como é que fica!



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